quarta-feira, 6 de maio de 2009

Só Duas Palavras…

Não só não poderia estar mais de acordo com o texto, como sublinho a importância do dever de exigência requerer uma regulamentação em que, devida e claramente, se estabeleçam as obrigações inerentes à dignificação de uma classe profissional.
Evidentemente, nada me parece mais lógico do que a criação de uma Ordem de Professores, a exemplo das que existem nas mais variadas classes profissionais. Por todos os motivos pelos quais elas existem e mais alguns, atendendo à especificidade do nosso ofício. É sobre esses que eu diria duas palavras…

Primeira, deveria caber a uma ordem de professores a palavra final sobre o acesso à carreira, já que, só assim, se consegue evitar a manipulação de toda uma classe fruto da sua vulgarização, cada vez mais maciça. Ser professor tem que voltar a ser uma honra e uma distinção, que a massificação do ensino transformou numa, cada vez mais, acentuada vergonha e humilhação. Aqui há uma imensa culpa dos sindicatos que, a propósito dos mais abjectos fins, promoveram a permeabilidade da capacidade de exercer funções lectivas entre os diversos graus académicos, através dos mais inusitados meios de requalificação e formação de duvidosíssima qualidade.
Dou um exemplo, um destes anos, chegado a uma escola nova, cheguei à fala com uma colega que me perguntou de quê que eu era… Respondi-lhe que era de filosofia, ao que ela retorquiu que eu devia ser doido, já que no upgrade que ela tinha feito, para passar de professora primária para licenciada e professora do secundário, feito não sei onde, tinha tido qualquer coisa, que eu já esqueci o nome, como história das ideias, ou qualquer coisa assim, relacionada, muito vagamente, com a filosofia e que lhe causou incomensuráveis dores de cabeça, pois não conseguia perceber nada daquilo… Só a custo, por trabalho de grupo, com 10 e com muita água benta do professor, conseguiu fazer aquela porcaria…
Nada de muito grave, não fosse dar-se o caso dessa criatura ter sido colocada a leccionar no grupo de português onde, por ser quem tinha mais anos de serviço, passou a leccionar, exclusivamente, Literatura Portuguesa do 12º ano, onde ensinava Antero de Quental, Fernando Pessoa e por aí… Como? Não sei… Sei apenas que, na dita escola, havia um número bastante razoável de professores de português muito competentes que não podiam leccionar o nível e a disciplina porque estava lá a novel doutora…

Segunda, o mesmo diria em relação aos conteúdos programáticos, à sua organização e prática pedagógica… Evitaria a maioria dos abortos que para aí andaram e andam. Só darei dois exemplos… Lembro-me de um programa de Psicologia dos cursos tecnológicos que assentavam num portefólio a desenvolver, autonomamente, pelos alunos. O professor deveria apenas auxiliar as suas pesquisas… Obviamente, vi logo no que ia dar, numa turma de desporto com quase trinta alunos. No entanto, como gosto de experimentar as coisas, tentei três semanas, período após o qual fiz o que todos os outros fizeram que foi voltar à moda antiga, eu dou as aulas, faço o manual (que nem sequer existia) e, com isso, os meus amigos farão o vosso portefólio ou o que quiserem…
Finalmente, abro ao acaso as sugestões do ministério no item: situações de aprendizagem/avaliação, na disciplina de Área de Integração dos cursos profissionais do secundário, tema/problema 6.2- O desenvolvimento de novas atitudes no trabalho e no emprego: o empreendedorismo e cito apenas dois itens…
· Realização de um debate entre uma turma e um empregador sobre formação inicial, formação contínua e primeiro emprego no sector respectivo: realidade existente e desejável.
· Visita de estudo a uma empresa de elevada tecnologia, tendo em vista a compreensão das relações de trabalho e cultura da empresa.
Não digo mais nada. Pensem…

1 comentário:

paulo g. disse...

Já publicado no Umbigo