quarta-feira, 25 de março de 2009

Padre António Vieira - sermão de antigamente aos peixes da actualidade

Oportuno excerto do Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira


Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicem se devorantes: «Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer. Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários, comem-no os acredores; comem-no os oficiais dos órfãos e os dos defuntos e ausentes; come-o o médico, que o curou ou ajudou a morrer; come-o o sangrador que lhe tirou o sangue; come-a a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa; come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.

Maria Estrela Martins Campos Henriques da Nóbrega

11 comentários:

Grão-Titular disse...

Muito bem, seja bem vinda...

Anónimo disse...

os peixes hoje estão no BPN e não no mar!

Anónimo disse...

O Oliveira e Costa foi o titular mor!

Anónimo disse...

realmente este blog afunda-se. coitado dele. poucas ou nenhumas saudades restam

Grão-Titular disse...

Titulares, mulheres e crianças à frente! E por esta ordem...

Anónimo disse...

Assim se iniciaram as piores convulsões da história...seu alarve!

Grão-Titular disse...

Desde que os Titulares vão à frente, não há problema...

Anónimo disse...

A Santa Inquisão vos aguardará. Deixarão de ter problemas. Bom churrasco!

Grão-Titular disse...

Ó Marrano a fogueira é tua...

Anónimo disse...

Tive antes o cuidado de lhe pedir que não perca a compostura. Mais uma breve sugestão...Leia um pouco de Loiola nas suas pequenas férias, ó Grão Ignorante|

Anónimo disse...

Vocês não têm o minimo de compostura ..........Ao invés de conversarem como adutos,duas parecem crianças discutindo sem o minimoooo de coesão .